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20/06/2018
Escolas do SESI conseguem reduzir o impacto da baixa escolaridade das mães no desempenho dos estudantes

A rede SESI se destacou pela maior interação dos professores com a direção da escola e pela elaboração de projetos pedagógicos adequados à realidade local.

 

Está consolidada internacionalmente a tese de que a escolaridade da mãe é um dos principais fatores que influenciam o desempenho escolar de crianças e adolescentes. Quanto maior a escolaridade dela, melhor é o desempenho do aluno. Apesar disso, algumas experiências escolares estão amenizando essa influência em estudantes cujas mães têm baixo nível de escolaridade. É o que está ocorrendo na rede de escolas do Serviço Social da Indústria (SESI), segundo estudos feitos por especialistas no tema com base nos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica de 2013.

De acordo com análise feita pelo pesquisador Naercio Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, no estudo O desempenho da Rede SESI e das demais Redes de Ensino, enquanto 42% das mães de alunos da rede privada tinham nível superior, apenas 28% das mães dos estudantes do SESI tinham esse grau de escolaridade. No entanto, chamou a atenção do pesquisador que, mesmo com menor proporção de mães com nível superior que os alunos da rede privada, os estudantes do SESI tiveram melhor desempenho na Prova Brasil.

Segundo Menezes, isso também se observa quando se compara a rede SESI com a rede federal que possui 39% das mães dos alunos com graduação universitária. Para o pesquisador, a influência do ambiente escolar da rede SESI no desempenho dos alunos, denominada “efeito escola” favoreceu para que os alunos do SESI tenham alcançado melhor desempenho no 5º ano do ensino fundamental que os alunos da rede privada e federal.

O efeito escola também foi constatado no estudo Fatores Intra e Extraescolares associados à aprendizagem dos alunos das escolas do SESI, coordenado por Rubem Klein, consultor da Fundação Cesgranrio. Ao analisar o nível socioeconômico e o desempenho alcançado pelos alunos da rede SESI, ele identificou maior homogeneidade das médias entre as diversas classes econômicas. “No SESI, os fatores intraescolares contribuem para atenuar os extraescolares, como a escolaridade dos pais e a renda familiar. A experiência do SESI poderá servir para o sistema educacional como um todo no sentido de apontar caminhos para minimizar a influência do nível socioeconômico no desempenho dos estudantes”, diz Klein.

GESTÃO ESCOLAR – Outro especialista no tema, Fernando Abrucio, professor de Ciências Políticas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), enumerou aspectos que explicam o fato de a rede de educação do SESI conseguir alavancar o desempenho dos alunos. No estudo Os professores da Rede SESI de Ensino – Perfil atual e possibilidades de aperfeiçoamento, ele comparou as respostas dadas por professores e gestores escolares de todas as redes de ensino do país aos questionários da Prova Brasil. Abrucio identificou a gestão participativa, a qualidade dos professores e as práticas pedagógicas inovadoras da rede SESI como fatores que contribuem para o melhor desempenho dos seus alunos em relação aos das demais redes.

Em relação à gestão escolar, a rede SESI se destacou pela maior interação dos professores com a direção da escola e pela elaboração de projetos pedagógicos adequados à realidade local. Conforme o estudo, 47% dos professores do SESI afirmaram que participam sempre ou quase sempre das decisões relacionadas ao seu trabalho. Esse percentual foi de 43% na rede municipal e de 39% na estadual e na privada. Na construção de metas educacionais, 80% dos professores do SESI disseram que o diretor da escola os envolve nessa discussão ante 62% da rede municipal, 61% da estadual e 64% da privada. Já na elaboração de projeto pedagógico, 91% dos professores do SESI destacaram que houve elaboração de um modelo próprio ou adaptação de um modelo pronto à realidade escolar, frente 78% da rede municipal, 82% da estadual e 80% da privada.

 

A rede SESI possui a maior concentração de professores com 11 anos ou mais de sala de aula: 36%.


FORMAÇÃO CONTINUADA – Outro aspecto relevante no desempenho dos alunos, apontado por Abrucio, é a atualização constante dos professores. “A formação inicial do professor não é suficiente. A variável-chave é a formação continuada, que envolve o saber prático de anos de trabalho em sala de aula”, destaca o pesquisador.

Nesse quesito, 94% dos professores da rede do SESI afirmaram ter participado de alguma atividade de desenvolvimento profissional sobre metodologias de ensino na sua área de atuação e reconheceram algum impacto na prática pedagógica. Esse percentual foi menor nas outras redes de ensino: 77% na rede municipal, 75% na estadual e 79% na rede privada.

Segundo Abrucio, a forma mais eficaz de formação continuada é propiciada pela troca de experiências entre os professores mais antigos e os mais novos. “A experiência internacional em educação mostra que a própria escola e a sala de aula são elementos estratégicos da formação dos professores. Cabe à gestão escolar proporcionar essa maior interação entre os professores”, afirma.

Outros fatores destacados foram a experiência do professor na escola na qual leciona e o tempo de formado. No primeiro aspecto, a rede SESI possui a maior concentração de professores com 11 anos ou mais de sala de aula: 36%. Nas redes municipal e estadual, esse percentual é de 21% e, na privada, de 25%. Em relação ao segundo aspecto, a rede SESI também apresentou melhores resultados que o sistema público e privado, com 75% dos professores com mais de 7 anos de formado ante 67% da rede municipal, 69%, da estadual, e 56% da rede privada.

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS – O estudo revelou ainda que os professores do SESI utilizam com menor frequência práticas pedagógicas passivas como a cópia de conteúdos da lousa ou do livro didático. Enquanto 26% dos professores do SESI se dedicam diariamente a esse tipo de atividade, 42% dos docentes da rede pública, 40% da estadual e 37% da privada utilizam essa prática diariamente.

Por outro lado, os professores do SESI realizam com mais frequência atividades que favorecem uma participação mais ativa dos alunos como a discussão sobre a adequação de resultados numéricos obtidos na solução de problemas. Essa prática é realizada por 81% dos professores do SESI diariamente ante 73% da rede municipal e 74% da estadual e da privada.

Os dados analisados nos três estudos são referentes à Prova Brasil 2013, pois nesse ano as escolas do SESI participaram de forma censitária. Ao todo, participaram da avaliação 38.484 escolas do 5º ano, com quase 2,6 milhões de alunos, e 30.724 escolas do 9º ano, com mais de 2,5 milhões de estudantes. O SESI participou no 5º ano com 12.118 alunos de 242 escolas e, no 9º ano, com 15.157 alunos de 237 escolas. Foram analisados os resultados dos alunos nas avaliações de Língua Portuguesa e Matemática e as respostas dos questionários complementares realizados com professores e gestores escolares.


Por: Maria José Rodrigues
Fotos: José Paulo Lacerda e Miguel Ângelo
Infografia: Daniel Pedrosa
Da Agência CNI de Notícias